quarta-feira, 23 de outubro de 2013

JORNALISTA CRIA INFORMATIVO PARA PÚBLICO INFANTIL

A jornalista Simone Ronzani criou o Recontando. Um informativo que reconta as notícias para crianças. Vale a pena conferir.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A ARTE E O DESENHO INFANTIL: UMA PERDA DE TEMPO?

Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, “Histórias Vividas”, uma imponente gravura. Representava ela uma jibóia que engolia uma fera. Eis a cópia do desenho.


Dizia o livro: “As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão...” Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. Meu desenho número 1 era assim:

Mostrei minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo. Responderam-me: “Por que é que um chapéu faria medo?” Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu desenho número 2 era assim:


As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.
“O Pequeno Príncipe” (Capítulo 1), de Antoine de Saint-Exupéry



Assim como o narrador da história, você já passou por tal situação? Quantas vezes os desenhos feitos pelas crianças são mal interpretados ou considerados como rabiscos sem significado. Mas, será que a arte expressada através de desenhos é uma “perda de tempo” quando equiparada à história, matemática ou geografia, por exemplo, consideradas tão significativas para a nossa formação? Afinal, qual o significado e importância da arte para as crianças?

     A arte enquanto processo criador e expressivo pode ser considerada como uma forma de linguagem, principalmente durante os primeiros anos de vida, momento em que a criança começa a perceber o mundo à sua volta. A criança costuma expressar, através da arte, diversos sentimentos e pensamentos que estão intimamente relacionados à convivência com outras pessoas e com o ambiente no qual está inserida. A partir de variadas experiências, os pequenos aprimoram suas representações artísticas, o que resulta em um bom desenvolvimento intelectual, perceptivo e afetivo.

     Durante a infância é necessário ampliar algumas experiências perceptivas (visualidade¹, sonoridade e tato) para que a criança possa ter uma melhor compreensão acerca dos diferentes espaços, pessoas e objetos a sua volta. Ao desenvolver a visualidade, nem sempre as crianças representam as características da forma como realmente são: há uma variação de cores, perspectivas, tamanhos, formas etc. O tato e a sonoridade complementam percepções que não podem ser identificadas somente pela visão. Assim, todos os sentidos estão articulados, um depende do outro. As percepções consistem na análise e interpretação da criança, as quais ganham significado e tornam-se uma verdadeira “leitura de mundo”.

     Ao perceber o que está à sua volta, as crianças ampliam também o seu processo imaginativo, no qual associam elementos da realidade e da fantasia, mesclando esses dois extremos.  Imaginar possibilita reproduzir o que é observado, além de permitir a criação e recriação de novas formas de agir, pensar, brincar e representar, no que tange aos aspectos afetivos e sociais. Como característica própria da infância, a imaginação varia de acordo com o desenvolvimento e motivação atribuída às ações realizadas durante essa fase.
     Tanto a percepção quanto a imaginação darão suporte a mais um processo de conhecimento da arte: trata-se da representação através do desenho infantil. Os chamados “rabiscos”, comumente desvalorizados pelos adultos, na verdade representam gestos, nos quais os traços bruscos expressam ações e movimentos corporais. Inicialmente não há uma intencionalidade, mas aos poucos a criança percebe que além dos gestos ela pode representar inúmeros objetos também. Ao longo do desenvolvimento as representações artísticas vão sendo aprimoradas, tornando-se mais elaboradas e próximas da realidade.

     A arte deve ser valorizada como expressividade infantil, até mesmo como atividade essencial para o desenvolvimento de aspectos físicos, psicológicos, afetivos e cognitivos. O desenho infantil geralmente não é valorizado, tanto no espaço escolar quanto familiar, tornando-se desconhecida a importância dessa atividade. No ambiente escolar, o professor deve estimular essas expressões, ao invés de reproduzir atos que desvalorizam as criações das crianças.

     É importante reconhecer que a criança é um ser atuante no mundo, capaz de percebê-lo, interpretá-lo, bem como de imaginar novas possibilidades, representando tudo em um simples papel. A criança tem um modo belíssimo e único de observar o que existe, o que faz parte do contexto em que vive. Porém, na maioria das vezes, ela é podada de expressar suas percepções, ocasionando em consequências negativas para a sua formação. Enquanto educadores, precisamos ter consciência de que as áreas consideradas fundamentais para a aprendizagem e construção do conhecimento, como a Língua Portuguesa e a Matemática, não são superiores ou menos significativas que a Arte, mas que cada saber amplia a formação das crianças de modo diferenciado. Ou seja, cada uma contribui ao seu modo. Além disso, precisamos refletir sobre nossas práticas e estarmos atentos a nossos posicionamentos diante da arte infantil, afinal: “As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando”.

Fonte: PET Pedagogia

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DO ESPAÇO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Educação Infantil, assim como a Educação de um modo geral, ainda faz parte de uma idealização utópica da sociedade. Seja pela falta de políticas pedagógicas efetivas, propostas pedagógicas firmes e comprometidas ou pela falta de conhecimento deste campo, pode-se afirmar que esta realização ainda soma um desafio social. Acompanhamos, portanto, uma realidade em que muitos projetos não são valorizados, em que há um desconhecimento do significado do exercício pedagógico e que não oferece condições para que as legislações se concretizem.

Neste contexto, sabe-se que a interação, a troca de experiências, o estímulo, a apropriação dos diversos conhecimentos na Educação Infantil, são fundamentais para garantir à criança o seu desenvolvimento e consequente formação integral como ser humano. Mas então perguntamos como trabalhar neste sentido de desenvolvimento, trazendo significado para esta prática, se, como educadores, temos “em mãos” uma classe heterogênea, muitas vezes sem apoio familiar, tendo ainda em desvantagem estes desafios já caracterizados? E, ainda assim, como trabalhar atividades com a criança sem interferir, no papel de adulto, em suas atitudes e interações promovendo a autonomia e a criatividade?

Conforme Maria Barbosa e Maria Horn (2001), é necessário que haja uma sequência de atividades diárias que sejam pensadas a partir da realidade da turma e da necessidade de cada aluno. Neste momento, é essencial que haja a sensibilidade do Educador para entender a criança como sujeito ativo, reconhecendo as suas singularidades, considerando não somente o contexto sociocultural deste aluno como também o da instituição.

Para dispor de tais atividades no tempo é fundamental organizá-las dentro tendo presentes as necessidades biológicas das crianças como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene, e à sua faixa etária; as necessidades psicológicas que se referem às diferenças individuais como, por exemplo, o tempo e o ritmo que cada uma necessita para realizar as tarefas propostas; as necessidades sociais e históricas que dizem respeito à cultura e ao estilo de vida, como as comemorações significativas para a comunidade onde se insere a escola e também as formas de organização institucional da escola infantil. (BARBOSA, HORN, 2001, p. 68)

Deste modo, entendendo a turma como um espaço heterogêneo, tendo em vista a faixa etária, o histórico, as necessidades biológicas, psicológicas, sociais e históricas de cada criança, devemos pensar em atividades diversas, as quais deverão envolver as crianças e assim estimular a partir do dia-a-dia o desenvolvimento de uma série de habilidades.

Esta organização do tempo que se repete diariamente, o que chamamos de rotina, deve ser construída a partir deste conjunto de atividades que possibilitam, entre outras competências, a iniciativa, a segurança, a confiança etc. Para proporcionar estas atividades é necessário, sobretudo, fazer um planejamento pensando nos momentos mais adequados e no local em que serão realizadas.

Sabendo que tudo no ambiente escolar exerce influências na educação da criança, sejam as cores, a arrumação da sala de aula, o refeitório, os banheiros, o espaço externo, pensamos que a organização dos espaços na Educação Infantil é essencial, pois desenvolve potencialidades e propõe novas habilidades cognitivas, motoras e afetivas. Deste modo, as aprendizagens que acontecem dentro dos espaços disponíveis e ou acessíveis à criança são fundamentais na construção da autonomia, tendo a criança como umas das construtoras de seu conhecimento.

O espaço é muito importante para a criança pequena, pois muitas, das aprendizagens que ela realizará em seus primeiros anos de vida estão ligadas aos espaços disponíveis e/ou acessíveis a ela. (LIMA, 2001, p.16)

Buscando uma perspectiva de sucesso para a aprendizagem, é preciso que a organização deste espaço seja pensada como um ambiente acolhedor e prazeroso para a criança, ou seja, um lugar onde as crianças possam brincar e criar suas brincadeiras sentindo-se estimuladas e autônomas. O espaço criado para a criança deverá estar organizado de acordo com a sua faixa etária, isto é, propondo desafios que a farão avançar no desenvolvimento de suas habilidades.

Neste sentido, pensamos que a professora da Educação Infantil deve tomar consciência da importância de ofertar espaços ricos de informações na vida das crianças, passando a reconhecer a seriedade das trocas que ocorrem nos espaços oferecidos como um fator essencial na vida dos alunos.

Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil:
A proposta pedagógica das Instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança o acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e a interação com as outras crianças. (BRASIL, 2010, p. 18)

Partido deste pressuposto, entende-se que para que esses objetivos sejam alcançados é necessário que a organização das atividades no tempo e no espaço assegure para além do reconhecimento das especificidades etárias ou da utilização ampla dos espaços externos ou internos, o direito a ser criança, e ao reconhecimento da importância da sua participação ativa neste processo.

Assim, é preciso repensar sobre esse espaço e suas proposições, reconhecendo as instituições de Educação Infantil como um ambiente heterogêneo, plural, rico em aprendizagens, brincadeiras, fantasias e sonhos. Dessa forma, torna-se imprescindível que os espaços sejam planejados e pensados em prol do desenvolvimento de cada criança. 

Fonte: Petpedagogia