segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

7 dicas coloridas para sua festa de Reveillon



O réveillon é sinônimo de festa e, por isso mesmo, a decoração da casa tem de condizer com esse ambiente de boa disposição, glamour e alegria. Pensando nisso, separamos 7 dicas super bacanas para deixar a sua decoração de reveillon bem divertida e colorida!




    1. Velas vistosas: numa festa de réveillon não podem faltar as velas e quantas mais melhor, pois, a decoração agradece! Se vai dar um jantar de réveillon íntimo, concentre as velas sobre a mesa de jantar, optando por recipientes originais. Se a festa de réveillon vai ser grande e muito animada, espalhe as velas por todos os espaços que vão receber convidados, optando por velas de tamanhos grandes (duram mais tempo) e se as colocar dentro de bonitas lanternas, o efeito é ainda mais divertido e seguro. E, claro, não se esqueça de as acender todas… os seus convidados vão adorar!

    2. Brinde bonito: o champanhe é o rei da festa de réveillon, por isso, personalize as taças de champanhe com um detalhe engraçado – pode ser uma etiqueta pendurada com uma fita na base com o seu nome, uma citação ou mensagem de boas-vindas ao ano novo; pode ainda ser um enfeite natalício ou outro mimo especial. E não se esqueça, as crianças vão adorar brindar também com uma dessas. 

    3. Confetti colorido: aproveite os restos do papel de embrulho de Natal e, com um furador, reúna um stock generoso de confetti festivo para dispor solto sobre a mesa de jantar ou para espalhar à porta de entrada. Guarde um pouco em sacolinhas coloridas e entregue para as crianças quando o relógio soar meia noite. 

    4. Gelo giro: se vai ter um ou mais baldes com gelo para manter o champanhe ou outras bebidas sempre frescas, dê-lhes uma decoração irresistível ao colocar, por entre o gelo, elementos comestíveis como morangos ou chocolates; ou elementos decorativos, as crianças adoram os gelos coloridos em formato de bichinhos ou frutas. 

    5. Marcador festivo: aproveite os elementos mais divertidos da festa do réveillon para criar marcadores de lugar bem criativos. Pode usar tudo desde um balão preso com uma fita a cada cadeira ou um chapéu de réveillon colocado sobre o prato, a um saquinho transparente recheado de confetti colorido. Afinal de contas, réveillon é diversão… e a decoração da festa também pode e deve ter esse espírito!

    6. Belos balões: os balões não devem ser exclusivamente reservados às festas de aniversário ou festas infantis, uma vez que a festa de réveillon só fica a ganhar com balões a flutuar em cada divisão e a decorar a casa de forma bem festiva.

    7. Acessórios de réveillon: na decoração do réveillon não podem faltar elementos divertidos como apitos, línguas de sogra, cornetas, confett, plumas, penas, chapéus, tiaras, etc. As crianças adoram e fazem a diversão da festa. 

    Fonte: Revista Eu Decoro 

    Doces divertidos para decorar a sua ceia de Natal!

    Uma sugestão divertida para decorar a sua ceia de Natal com cinco idéias deliciosas para deixar os pequenos empolgadíssimos com a novidade colorida e criativa na mesa. 


    1. Cupcake com árvore de natal

    2.Biscoitinhos com botões de açúcar


    3. Pirulitos de chocolate com rostinho de boneco de neve 


    4. Bombom decorados 


    5. Casinha do papai Noel feita de jujubas e confeitos



    Fonte: Atelie dos Doces

    8 Brincadeiras para se divertir em família na noite de Natal





    1. ADIVINHE QUEM É! 
    Você vai precisar de:


  1. 1 lenço
    • 2 colheres de plástico 
    Como brincar:
    1. Vendem os olhos de um jogador. Outro participante fica na frente dele. Quem está vendado só pode tocar no amigo com as colheres e tem de adivinhar quem é. 
    2. Se ele não acertar na primeira tentativa, o amigo que está na sua frente vai imitar a risada do Papai Noel, dizendo “HO HO HO!”. Se o jogador acertar, o amigo que estava na sua frente vai ficar de olhos vendados e a brincadeira recomeça. Se mesmo assim ele errar, terá de tentar tocar outro participante, até adivinhar. 

    2. PROVA DAS BEXIGAS 
    Você vai precisar de:
    • 2 sacos de lixo grandes, vazios
    • Bexigas 

    Como brincar:
    1. Dividam-se em dois times. Distribuam as bexigas e um saco de lixo para cada equipe.
    2. Contem até três e cada equipe começa a encher bem seus balões e a colocá-los dentro do saco.
    3. Vence quem conseguir pôr mais balões totalmente cheios no saco de lixo, sem estourá-los. 

    3. O NÚMERO É...
    Você vai precisar de:
    • 1 árvore de Natal enfeitada
    • Papel
    • Lápis
    • 1 caixa de papelão 

    Como brincar:
    1. No dia da festa, cada convidado que chegar deve olhar a árvore de Natal e escrever em um papelzinho seu nome e quantos enfeites a árvore tem. Todos colocam os papéis na caixa.
    2. Depois, reúna todo mundo e contem os enfeites. Quem acertou pode ganhar um enfeite da árvore. 

    4. DE OLHO NA ÁRVORE
    Você vai precisar de:
    • 1 árvore de Natal bem enfeitada
    Como brincar:
    1. Reúna a turma ao redor da árvore. Sorteiem um participante, que vai sair da sala por 3 minutos. Escondam um enfeite e chamem o jogador de volta.
    2. Contem juntos até 50. Durante esse tempo, ele tem de descobrir qual o enfeite que está faltando.
    3. Se acertar, pode escolher o próximo jogador a sair.
    4. Se errar, paga um castigo escolhido pela turma – pode ter de cantar uma música de Natal ou fazer uma imitação engraçada. 

    5. AMIGO MISTERIOSO
    Você vai precisar de:
    • Papel
    • Caneta
    • Bombons
    Como brincar:
    1. Escrevam o nome de cada participante em um papel. Um jogador sorteia um nome e vai para o meio do grupo, sem mostrá-lo para ninguém.
    2. Cada participante, na sua vez, pode fazer uma pergunta sobre o amigo sorteado. Vale perguntar sobre os gostos e o jeito do outro, mas não sobre a aparência física. Quem responde só pode dizer sim ou não.
    3. Quem acertar o nome que está no papel ganha um bombom, sorteia um colega e aí o jogo recomeça. 

    6. PAPAI NOEL MANDOU...
    Você vai precisar de:
    • Árvore de Natal
    Como brincar:
    1. Sorteiem quem vai ser o Papai Noel e ficar perto da árvore. Os outros se alinham do lado oposto, o mais longe possível.
    2. Papai Noel fica de costas e dá ordens como: “Papai Noel manda todos andarem de costas” (ou saltarem, ou dançarem).
    3. A turma toda cumpre as ordens e quem chegar primeiro à árvore será o novo Papai Noel. 

    7. DESEMPACOTANDO 
    Você vai precisar de:
    • doces e pequenas lembranças de Natal
    • Saquinhos e caixinhas de presente
    • 1 dado
    Como brincar:
    1. Junte parentes e amigos e embrulhem enfeites, doces e canetinhas, colocando um saquinho dentro do outro.
    2. Deixem os embrulhos perto da árvore. Reúna todos e sorteie quem vai começar.
    3. O sorteado pega um embrulho e joga o dado para saber quantas embalagens pode abrir. Se não chegar ao presente, outro jogador joga o dado e continua a abrir o mesmo pacote. Se chegar, ele fica com o presente e o jogo recomeça. 

    8. RECADOS ESPECIAIS
    Você vai precisar de:
    • Cartolina amarela
    • Caneta
    • Fita colorida 
    Como brincar:
    1. Se a festa vai ser na sua casa, desenhe e recorte estrelas de cartolina.
    2. Faça um furinho em cada uma e deixe-as perto da árvore de Natal.
    3. Cada convidado que chegar pode escrever uma mensagem especial em uma estrela e pendurá-la na árvore de Natal usando uma fita.
    4. Guarde as estrelas como lembrança desse dia especial, junto com as fotos da festa. 

    Fonte: Revista Recreio

    quinta-feira, 21 de novembro de 2013

    Aula de física e inclusão


    Pensar práticas inclusivas durante a formação de professores para o ensino médio. Esta é a proposta do e-book Saberes docentes para a inclusão do aluno com deficiência visual em aulas de física, escrito pelo professor Eder Pires de Camargo, da Faculdade de Ciências da Unesp de Ilha Solteira, interior de São Paulo. No livro, que é gratuito, o autor expõe que é possível ensinar muitos conceitos físicos independentemente da visão.

    Em treze meses de trabalho para o pós-doutorado, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Camargo estudou o processo de planejamento das atividades de ensino de física em salas de aula que contemplam alunos com e sem deficiência visual. Para a pesquisa, ele acompanhou, em 2005, as aulas de futuros professores, estudantes de licenciatura em física da Unesp, em classes regulares do Colégio Técnico Industrial da cidade de Bauru, também no interior paulista.

    As primeiras análises feitas pelo autor mostraram quais são as principais dificuldades apresentadas pelos licenciandos nas salas que abrangem alunos com e sem deficiência visual concomitantemente. Ele enumera quatro: a relação direta que os futuros professores fazem entre conhecer fenômenos físicos e ver esses fenômenos; o desconhecimento da pessoa com deficiência visual; a atribuição de responsabilidades, ou seja, declarar que não é possível planejar as atividades porque não sente que foi preparado para isso na universidade ou porque a escola não fornece a infraestrutura necessária para a inclusão; a não superação de procedimentos tradicionais de aprendizagem.

    Após discorrer sobre as especificidades práticas do ensino de óptica, eletromagnetismo, mecânica, termologia e física moderna, Camargo faz recomendações aos docentes. Algumas delas são: saber sobre a história visual do aluno, como, por exemplo, se ele possui resíduo visual, se é cego desde o nascimento etc.; saber que significados vinculados às representações visuais sempre podem ser registrados e vinculados a outro tipo de percepção (tátil ou auditiva); saber que existem fenômenos físicos que não podem ser observados empiricamente e, portanto, compreendê-los não exige visão e outros sentidos; saber trabalhar a linguagem matemática; saber promover a interação entre alunos com e sem a deficiência.

    O download gratuito da obra pode ser feito no site http://www.editoraunesp.com.br/catalogo.asp.

    Fonte: Revista Educação

    Depressão em crianças e racismo

    Um levantamento realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade de Melbourne, na Austrália, encontrou 461 estudos que apontam a relação entre discriminação racial e ocorrências de depressão e ansiedade em crianças e adolescentes. O relatório, publicado em outubro no periódico Social Science & Medicine, analisou estudos conduzidos em sua maioria nos Estados Unidos, com jovens entre 12 e 18 anos. Segundo o levantamento, os grupos étnicos mais representados nas pesquisas são afro-americanos, latinos e asiáticos.

    Os tipos de discriminação mais presentes nesses estudos são experiências interpessoais e não racismo institucional ou sistêmico. Segundo o texto, o levantamento comprova um problema que precisa ser combatido na sociedade, na escola e nas comunidades para melhorar a saúde infantojuvenil, uma vez que as crianças que passam por essas experiências têm mais propensão a baixa autoestima, baixa resiliência e piores níveis de bem-estar. Ainda de acordo com o relatório, as mães que sofrem racismo durante a gestação têm mais dificuldades no parto.

    quinta-feira, 14 de novembro de 2013

    Dicionário poético

    “Adulto: pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma”. Essa definição, precisa e direta como um tapa, é do menino Andrés Felipe Bedoya, de 8 anos, parte de um projeto do professor colombiano Javier Naranjo, pai de Laura, que recolheu 500 definições escritas ou ditas por crianças e publicadas no livro Casa de las Estrellas – El Universo Contado por los Niños. “Casa das estrelas” foi como um dos alunos definiu o universo. Lançado em 1999 e relançado na Feira Internacional do Livro em Bogotá em abril, o livro traz frases como “Água: transparência que se pode tomar”. E foi com o assombro de quem não se dava conta de como as crianças veem o mundo de modo poético que os pais brasileiros conheceram o “dicionário de crianças”.

    As definições caíram no Facebook a partir do lançamento da nova edição e viralizaram imediatamente. Javier, que não tem perfil em nenhuma rede social, ficou sabendo da repercussão quando os jornalistas brasileiros começaram a procurá-lo. O livro chega às livrarias do Brasil pela editora Foz ainda neste ano.

    A relação de Javier com o nosso idioma vem de longa data. Um de seus livros de poemas se chama Orvalho, palavra escolhida pela sonoridade. “O português é uma língua que canta”.

    Para ele, a poesia que emana das frases ditas pelas crianças se originam desse encantamento que os mais novos ainda são capazes de sentir diante do mundo, por terem o olhar ainda não contaminado. Tomara que a gente possa deixar as crianças serem crianças e aprendamos a ver com olhos livres como elas.

    Qual das definições mais te surpreendeu?
    Esse trabalho foi feito ao longo de quase 10 anos, então são inúmeras as definições. Mas acho que a definição de adulto como uma pessoa que fala sempre de si mesma antes de falar do outro é a mais marcante, porque expressa a forma como nós nos portamos.

    Como você fazia para anotar? As crianças escreviam ou você gravava?
    Algumas crianças eram bem pequenas, com 2 ou 3 anos, então essas eu gravava e transcrevia da mesma forma como a definição havia sido feita. Com as crianças maiores, dava o tempo de uma aula para que eles pensassem a respeito, para que escrevessem suas próprias definições. O engraçado era que algumas crianças encararam isso como lição de casa, levaram para os pais e colocaram as respostas do dicionário. Então eu explicava que aquilo não era uma obrigação. Não havia certo nem errado. Só queria ouvir o que elas tinham a dizer. Não dava um prazo para que eles entregassem nada. Deixava a cargo deles.

    E você, como definiria uma criança?
    Acho que a criança é alguém conectado a uma essência primordial. O adulto é justamente o contrário, alguém que se desconectou de sua essência, perdeu a união com o mundo original.

    Por que você acha que as crianças estão mais próximas do poético que nós?
    O filósofo francês Gaston Bachelard nos fala da permanência de um núcleo de infância na alma humana. A criança vive a realidade de uma maneira absolutamente reveladora. Se a linguagem é a “casa do ser”, segundo o filósofo alemão Heidegger, as crianças vivem em uma outra casa, da qual nós, adultos, fomos expulsos. Essa maneira particular que as crianças têm de viver só é possível por seu vínculo com a “anima mundi”, a alma do mundo, com o assombro, com o poético que permeia tudo.

    Por que os que vivem nas áreas rurais estão mais próximos do poético?
    As crianças da área rural têm uma certa inocência, um olhar mais limpo, sujeitas à vertigem da vida urbana, a uma maior saturação dos sentidos e a múltiplas “aprendizagens” nas quais uma educação errada desagrega e atomiza em vez de integrar, coletar, irmanar.

    Por que o poético contido nas definições das crianças nos causa tanto espanto?
    Disse o poeta argentino Roberto Juarroz que as pessoas não leem poesia por medo de ver as coisas nuas. Ele escreveu: “A poesia é uma forma de despertar. É uma forma de abrir os olhos, de entendermos o que todas as correntes de filosofia e sabedoria disseram ao longo dos séculos: não basta nascer uma vez, é preciso voltar a abrir os olhos, é preciso nascer de novo”. A poesia é a palavra mais elevada, mais profunda, e as crianças estão mais próximas dela. Há uma frase muito citada de Rilke [o poeta alemão Rainer Maria Rilke], mas que é necessário citar de novo: “A infância é a pátria do homem”.

    Em sua opinião, o poético ainda pode sobreviver no mundo corrido em que vivemos?
    Sim, o poético ainda sobrevive, apesar das vãs tentativas de ignorá-lo e do “ruído” de todo tipo que nos rodeia habitualmente. É claro que não falamos apenas de palavras; elas só às vezes dão conta da poesia que ocupa a vida. A poesia é necessária porque reconhece e encontra outra dimensão do ser para que vivamos nossos dias de uma maneira mais atenta, mais plena.

    Você acha que o dicionário fez sucesso por estarmos tão afastados do poético que não percebíamos o quanto sentimos falta dele?
    Acho que o dicionário nos sacode para que não esqueçamos essa condição do humano que as crianças nos trazem com sua linguagem poderosa. Essas vozes plenas de sabedoria nos recordam a nós mesmos e nos dizem: “não se afastem, não se percam de seu íntimo pertencimento ao todo”.

    Você tem filhos?
    Sim, tenho uma filha de 23 anos, a Laura, que atualmente mora em Buenos Aires, na Argentina, estuda desenho gráfico na Universidade de Palermo e trabalha numa revista.

    Como escolheu o nome de sua filha?
    Eu queria ter um menino, que iria se chamar Pablo. Em nossas conversas, Pablo ia e vinha. Não que eu não gostasse de meninas, mas pensava que poderia contar a um menino o que é ser menino e compartilhar coisas comuns. Mas menina... Eu não sabia como era ser menina!

    Ficava assustado com a possibilidade de ter uma filha. Quando minha mulher fez o ultrassom e me disse “é uma menina”, fiquei mudo e passei dias digerindo a informação… Uma noite, sonhei que recebia minha filha com muita alegria e acordei reconciliado com a ideia de ter uma menina. Tínhamos pensado em dois nomes para ela: Isabel e Laura. Quando saímos da sala de parto, depois que eu cortei o cordão umbilical, uma amiga que nos esperava saudou minha filha: “Oi, Laura…” E assim foi como Laura, que agora tem 23 anos, recebeu seu nome.

    O que você lia para ela?
    Eu lia para Laura desde quando ela estava na barriga da mãe. Lia poemas que não necessariamente eram para crianças, colocava músicas para ela ouvir, contos infantis também. Mas nunca me preocupei se aquele determinado tipo de literatura era para a idade dela. Porque acho que isso não existe. Não importa se um livro é para uma criança de 2 a 4 anos ou de 5 a 8, porque ela vai ter sua forma de interpretar aquilo que vai de acordo com sua idade. E isso é o mais interessante ao ler para uma criança, saber como ela irá entender aquilo que você está passando para ela.

    Seu pai lia muito?
    Meu pai é o filho mais velho de uma família de camponeses que emigrou forçadamente para a cidade por causa da violência endêmica que atinge a Colômbia há mais de 60 anos. Só frequentou algumas séries do ensino fundamental, porque precisou abandonar a escola para ajudar a sustentar sua família, trabalhando praticamente desde criança. Ele conta que um professor lhe emprestava livros e foi assim que começou a ler, o que se tornou um hábito diário.

    Ele lia para você?
    Lembro de uma situação marcante. Enxergava muito pouco com o olho esquerdo e tinha um grave estrabismo e tive de operar com 10 ou 11 anos. Depois da operação, ainda sob efeito da anestesia, caí da cama e passei a ter fortes alucinações. Vi um esqueleto que, com meus gritos, desapareceu, e achava que tudo era real...

    Essas visões duraram algum tempo. Meu pai deixava a luz do corredor acesa e lia para mim até eu cair no sono. Mas bastava ele se afastar que eu acordava e não o deixava ir.

    Você tinha livros em casa? 
    Quando eu era pequeno, tínhamos apenas quatro livros em casa, porque éramos muito pobres e não podíamos comprá-los, então recorríamos a bibliotecas. Havia uma pequena coleção da editora argentina Tor, que publicava uns livrinhos cor de laranja, de filosofia e pensamento, com textos de Sêneca, Bergson, Aristóteles, Balmes. Gostava da textura, da cor das páginas, do cheiro daqueles livros. Eu os pegava e tentava ler alguma coisa. Claro que não entendia nada. Mas ver meu pai embebido nesses livrinhos me levava a tentar encontrar neles isso que era tão poderoso que o levava a outro mundo. Ainda cedo meu pai fez uma carteirinha da biblioteca pública para mim e eu comecei a conhecer todos os escritores de aventuras que conseguiam me dar outros corpos, outros nomes e outras terras para viver.

    Tem algum livro que marcou sua infância?
    Não me lembro propriamente de livros de poemas, mas me recordo muito dos livros de aventura: Emilio Salgari, Júlio Verne, Jack London e Mark Twain. Não destaco nenhum livro em particular. A poesia veio depois, quando conheci um livro que me tocou muito pelo poder de suas palavras inflamadas: Diário de Um Retorno ao País Natal (Editora Edusp), do poeta martinicano Aime Césaire.

    Sua mãe lia histórias para você? Quais?
    Minha mãe só lia a revista Seleções, que ela devorava, além dos jornais do dia. Mas ela era capaz de ler também outras coisas: como as plantas e o jardim. E, para entender essa linguagem, há que deixar a pressa e reduzir nosso desassossego habitual, porque esses vegetais “caminham” em outra velocidade... Tenho certeza de que aprendemos muito cuidando do verde, dos vegetais, da natureza. Eles nos inspiram e ensinam. Isso foi minha mãe quem me ensinou, desde a infância.

    Como imagina que seu livro vai ser recebido no Brasil?
    Em muitos países, inclusive no Brasil, foi publicado um número incrível de reportagens e entrevistas a partir da última edição do livro que apresentamos na Feira do Livro de Bogotá. Não faço parte de nenhuma rede social, mas me contam que o dicionário foi muito comentado por meio delas. O livro realmente gerou um grande interesse. Acredito que a reação ao livro no Brasil, em português, essa língua que canta, vai ser muito boa, e tomara que isso mostre aos céticos que somente a condição de ser criança, independentemente de país e classe social, pode nos convidar a tentar limpar a visão e contemplar o mundo com o assombro do recém-criado a cada dia e agradecer por estarmos vivos (apesar de tantas circunstâncias terríveis ou graças a elas).

    O que você acha do contato das crianças com a tecnologia?
    Parece que as crianças que nascem hoje já têm um chip, pois já sabem como agir diante dos computadores, programas… Não dá pra negarmos que elas se aproximem das tecnologias. O que tenho notado é que algumas crianças não entendem mais a caligrafia própria de cada pessoa. Aquela letra que traz sua personalidade parece ser algo em extinção. As letras agora são iguais. Acho que as duas coisas têm de coexistir.

    As crianças de hoje são diferentes?
    Estamos vivendo num tempo em que as crianças são pequenos tiranos, como se todos ao redor tivessem de obedecer suas vontades. Isso me preocupa. Os pais já não sabem muito bem como lidar com seus filhos. E por outro lado alguns professores também já não sabem como lidar com algumas crianças. A questão da leitura, por exemplo, vira uma obrigatoriedade sempre associada às notas, desempenho, pouco se fala da leitura como um prazer.

    E como disciplinar as crianças, então?
    Para mim, a disciplina deve ser por sedução e não regras. Quando você apresenta um livro para uma criança, pode fazê-lo de várias formas, mostrando o mundo inteiro que está por vir caso ela leia. As crianças são atraídas por isso.

    Família é tudo?
    Como disse uma criança em uma definição, família é tudo, tudo, tudo.Ou como disse outra criança: famíliaé o sol, as plantas, a natureza... Família é mesmo tudo isso, uma totalidade.

    Como aproveitar melhor a infância com os filhos?
    Escutando seus filhos. E escutar nem sempre é fácil. Não nos damos conta do que as crianças têm a dizer e não perguntamos. Hoje, tenho uma ótima relação com a minha filha, que mora em Buenos Aires, e vejo que isso é fruto de como foi nosso relacionamento na infância. O fato de ela morar longe, de saber construir sua vida, mostra isso. Dei asas para ela, deixei que ela aprendesse a se virar e ela conseguiu. E é isso que falta nas crianças de hoje em dia, todas parecem estar muito supervisionadas pelos adultos, como se não pudessem fazer ou pensar algo sem a presença dos pais.

    Fonte: Revista Pais e Filhos

    quarta-feira, 23 de outubro de 2013

    JORNALISTA CRIA INFORMATIVO PARA PÚBLICO INFANTIL

    A jornalista Simone Ronzani criou o Recontando. Um informativo que reconta as notícias para crianças. Vale a pena conferir.

    segunda-feira, 21 de outubro de 2013

    A ARTE E O DESENHO INFANTIL: UMA PERDA DE TEMPO?

    Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, “Histórias Vividas”, uma imponente gravura. Representava ela uma jibóia que engolia uma fera. Eis a cópia do desenho.


    Dizia o livro: “As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão...” Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. Meu desenho número 1 era assim:

    Mostrei minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo. Responderam-me: “Por que é que um chapéu faria medo?” Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu desenho número 2 era assim:


    As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.
    “O Pequeno Príncipe” (Capítulo 1), de Antoine de Saint-Exupéry



    Assim como o narrador da história, você já passou por tal situação? Quantas vezes os desenhos feitos pelas crianças são mal interpretados ou considerados como rabiscos sem significado. Mas, será que a arte expressada através de desenhos é uma “perda de tempo” quando equiparada à história, matemática ou geografia, por exemplo, consideradas tão significativas para a nossa formação? Afinal, qual o significado e importância da arte para as crianças?

         A arte enquanto processo criador e expressivo pode ser considerada como uma forma de linguagem, principalmente durante os primeiros anos de vida, momento em que a criança começa a perceber o mundo à sua volta. A criança costuma expressar, através da arte, diversos sentimentos e pensamentos que estão intimamente relacionados à convivência com outras pessoas e com o ambiente no qual está inserida. A partir de variadas experiências, os pequenos aprimoram suas representações artísticas, o que resulta em um bom desenvolvimento intelectual, perceptivo e afetivo.

         Durante a infância é necessário ampliar algumas experiências perceptivas (visualidade¹, sonoridade e tato) para que a criança possa ter uma melhor compreensão acerca dos diferentes espaços, pessoas e objetos a sua volta. Ao desenvolver a visualidade, nem sempre as crianças representam as características da forma como realmente são: há uma variação de cores, perspectivas, tamanhos, formas etc. O tato e a sonoridade complementam percepções que não podem ser identificadas somente pela visão. Assim, todos os sentidos estão articulados, um depende do outro. As percepções consistem na análise e interpretação da criança, as quais ganham significado e tornam-se uma verdadeira “leitura de mundo”.

         Ao perceber o que está à sua volta, as crianças ampliam também o seu processo imaginativo, no qual associam elementos da realidade e da fantasia, mesclando esses dois extremos.  Imaginar possibilita reproduzir o que é observado, além de permitir a criação e recriação de novas formas de agir, pensar, brincar e representar, no que tange aos aspectos afetivos e sociais. Como característica própria da infância, a imaginação varia de acordo com o desenvolvimento e motivação atribuída às ações realizadas durante essa fase.
         Tanto a percepção quanto a imaginação darão suporte a mais um processo de conhecimento da arte: trata-se da representação através do desenho infantil. Os chamados “rabiscos”, comumente desvalorizados pelos adultos, na verdade representam gestos, nos quais os traços bruscos expressam ações e movimentos corporais. Inicialmente não há uma intencionalidade, mas aos poucos a criança percebe que além dos gestos ela pode representar inúmeros objetos também. Ao longo do desenvolvimento as representações artísticas vão sendo aprimoradas, tornando-se mais elaboradas e próximas da realidade.

         A arte deve ser valorizada como expressividade infantil, até mesmo como atividade essencial para o desenvolvimento de aspectos físicos, psicológicos, afetivos e cognitivos. O desenho infantil geralmente não é valorizado, tanto no espaço escolar quanto familiar, tornando-se desconhecida a importância dessa atividade. No ambiente escolar, o professor deve estimular essas expressões, ao invés de reproduzir atos que desvalorizam as criações das crianças.

         É importante reconhecer que a criança é um ser atuante no mundo, capaz de percebê-lo, interpretá-lo, bem como de imaginar novas possibilidades, representando tudo em um simples papel. A criança tem um modo belíssimo e único de observar o que existe, o que faz parte do contexto em que vive. Porém, na maioria das vezes, ela é podada de expressar suas percepções, ocasionando em consequências negativas para a sua formação. Enquanto educadores, precisamos ter consciência de que as áreas consideradas fundamentais para a aprendizagem e construção do conhecimento, como a Língua Portuguesa e a Matemática, não são superiores ou menos significativas que a Arte, mas que cada saber amplia a formação das crianças de modo diferenciado. Ou seja, cada uma contribui ao seu modo. Além disso, precisamos refletir sobre nossas práticas e estarmos atentos a nossos posicionamentos diante da arte infantil, afinal: “As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando”.

    Fonte: PET Pedagogia

    quarta-feira, 2 de outubro de 2013

    A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DO ESPAÇO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

    A Educação Infantil, assim como a Educação de um modo geral, ainda faz parte de uma idealização utópica da sociedade. Seja pela falta de políticas pedagógicas efetivas, propostas pedagógicas firmes e comprometidas ou pela falta de conhecimento deste campo, pode-se afirmar que esta realização ainda soma um desafio social. Acompanhamos, portanto, uma realidade em que muitos projetos não são valorizados, em que há um desconhecimento do significado do exercício pedagógico e que não oferece condições para que as legislações se concretizem.

    Neste contexto, sabe-se que a interação, a troca de experiências, o estímulo, a apropriação dos diversos conhecimentos na Educação Infantil, são fundamentais para garantir à criança o seu desenvolvimento e consequente formação integral como ser humano. Mas então perguntamos como trabalhar neste sentido de desenvolvimento, trazendo significado para esta prática, se, como educadores, temos “em mãos” uma classe heterogênea, muitas vezes sem apoio familiar, tendo ainda em desvantagem estes desafios já caracterizados? E, ainda assim, como trabalhar atividades com a criança sem interferir, no papel de adulto, em suas atitudes e interações promovendo a autonomia e a criatividade?

    Conforme Maria Barbosa e Maria Horn (2001), é necessário que haja uma sequência de atividades diárias que sejam pensadas a partir da realidade da turma e da necessidade de cada aluno. Neste momento, é essencial que haja a sensibilidade do Educador para entender a criança como sujeito ativo, reconhecendo as suas singularidades, considerando não somente o contexto sociocultural deste aluno como também o da instituição.

    Para dispor de tais atividades no tempo é fundamental organizá-las dentro tendo presentes as necessidades biológicas das crianças como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene, e à sua faixa etária; as necessidades psicológicas que se referem às diferenças individuais como, por exemplo, o tempo e o ritmo que cada uma necessita para realizar as tarefas propostas; as necessidades sociais e históricas que dizem respeito à cultura e ao estilo de vida, como as comemorações significativas para a comunidade onde se insere a escola e também as formas de organização institucional da escola infantil. (BARBOSA, HORN, 2001, p. 68)

    Deste modo, entendendo a turma como um espaço heterogêneo, tendo em vista a faixa etária, o histórico, as necessidades biológicas, psicológicas, sociais e históricas de cada criança, devemos pensar em atividades diversas, as quais deverão envolver as crianças e assim estimular a partir do dia-a-dia o desenvolvimento de uma série de habilidades.

    Esta organização do tempo que se repete diariamente, o que chamamos de rotina, deve ser construída a partir deste conjunto de atividades que possibilitam, entre outras competências, a iniciativa, a segurança, a confiança etc. Para proporcionar estas atividades é necessário, sobretudo, fazer um planejamento pensando nos momentos mais adequados e no local em que serão realizadas.

    Sabendo que tudo no ambiente escolar exerce influências na educação da criança, sejam as cores, a arrumação da sala de aula, o refeitório, os banheiros, o espaço externo, pensamos que a organização dos espaços na Educação Infantil é essencial, pois desenvolve potencialidades e propõe novas habilidades cognitivas, motoras e afetivas. Deste modo, as aprendizagens que acontecem dentro dos espaços disponíveis e ou acessíveis à criança são fundamentais na construção da autonomia, tendo a criança como umas das construtoras de seu conhecimento.

    O espaço é muito importante para a criança pequena, pois muitas, das aprendizagens que ela realizará em seus primeiros anos de vida estão ligadas aos espaços disponíveis e/ou acessíveis a ela. (LIMA, 2001, p.16)

    Buscando uma perspectiva de sucesso para a aprendizagem, é preciso que a organização deste espaço seja pensada como um ambiente acolhedor e prazeroso para a criança, ou seja, um lugar onde as crianças possam brincar e criar suas brincadeiras sentindo-se estimuladas e autônomas. O espaço criado para a criança deverá estar organizado de acordo com a sua faixa etária, isto é, propondo desafios que a farão avançar no desenvolvimento de suas habilidades.

    Neste sentido, pensamos que a professora da Educação Infantil deve tomar consciência da importância de ofertar espaços ricos de informações na vida das crianças, passando a reconhecer a seriedade das trocas que ocorrem nos espaços oferecidos como um fator essencial na vida dos alunos.

    Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil:
    A proposta pedagógica das Instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança o acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e a interação com as outras crianças. (BRASIL, 2010, p. 18)

    Partido deste pressuposto, entende-se que para que esses objetivos sejam alcançados é necessário que a organização das atividades no tempo e no espaço assegure para além do reconhecimento das especificidades etárias ou da utilização ampla dos espaços externos ou internos, o direito a ser criança, e ao reconhecimento da importância da sua participação ativa neste processo.

    Assim, é preciso repensar sobre esse espaço e suas proposições, reconhecendo as instituições de Educação Infantil como um ambiente heterogêneo, plural, rico em aprendizagens, brincadeiras, fantasias e sonhos. Dessa forma, torna-se imprescindível que os espaços sejam planejados e pensados em prol do desenvolvimento de cada criança. 

    Fonte: Petpedagogia

    segunda-feira, 23 de setembro de 2013

    PRESSÃO PELA ALFABETIZAÇÃO

    Focar excessivamente o teste e prejudicar o processo de aprendizagem. Essa pode ser uma das consequências de avaliações de alfabetização aplicadas em larga escala e uma das preocupações entre especialistas em relação à Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), prova do governo federal a ser aplicada, a partir deste ano, para os alunos do 3o ano do ensino fundamental da rede pública. A ANA será feita anualmente, perto do fim do período letivo, de modo censitário.

    As preocupações entre especialistas são muitas. O professor da Faculdade de Educação da Unicamp, Luiz Carlos de Freitas, teme que a ANA contribua para a pressão contra escolas, professores e alunos. "Vai aumentar a prescrição de materiais apostilados, desqualificando-se cada vez mais os profissionais que, em vez de exercitarem a reflexão sobre a sua prática pedagógica, serão instados a seguir receitas", acredita. Para ele, avaliações de larga escala não necessitam ser censitárias e nem anuais. "O que tem influenciado a existência de avaliações censitárias é a ideia de responsabilizar o professor e a escola individualmente. Essa 'auditoria' permanente é que exige esse modelo", afirma.

    Choro e cobrança
    João Luiz Horta Neto, pesquisador do Inep e doutor em política social, admite que dependendo da forma como se implementam os testes para avaliação, os professores podem se sentir pressionados a dar um foco excessivo no trabalho para o bom desempenho dos alunos - mas um bom resultado no teste não significa, necessariamente, que o processo educacional esteja acontecendo como deveria.

    Ele descreve o cenário que presenciou quando acompanhou a aplicação de testes do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) - Provinha Brasil e Prova Brasil - em vários anos escolares. Segundo ele, nos anos iniciais as crianças chegam a chorar quando não conseguem resolver todas as questões no tempo estipulado. "Você percebe que o ambiente fica tenso e a criança se cobra muito - e não sabemos se no momento anterior houve pressão da escola, da família e do professor", relata.

    A pesquisadora da coordenação geral de estudos educacionais da Fundação Joaquim Nabuco, Patrícia Simões, teme que esse tipo de avaliação tenha um efeito de pressão indesejada também sobre o currículo escolar. Em busca de obter bons resultados, os professores podem ser induzidos a montar aulas de "treinamento" para a prova. "E isso traz muitos danos para o processo de aquisição da linguagem escrita do aluno", diz Patrícia.

    ANA x Provinha Brasil 
    Por outro lado, para medir a alfabetização - e mesmo que não houvesse uma meta definida de "idade certa" para esse processo -, não há como escapar das séries iniciais do ensino fundamental. A ANA está aliada ao Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), que tem como meta a alfabetização das crianças até os 8 anos de idade, ao final do 3º ano do EF. Ana Paula Ribeiro, professora adjunta do Departamento de Teoria e Prática do Ensino da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenadora adjunta do Pnaic no Estado, defende que quanto mais cedo, melhor.

    Matriz desconhecida 
    "Os modelos de avaliação da Educação Básica que existem hoje realizam avaliações ao final do 5º ano. Os problemas detectados nessa avaliação dificilmente são sanáveis àquela altura. Quanto mais cedo os alunos forem avaliados, maiores serão as chances de terem garantidos os seus direitos de aprendizagem", diz Ana Paula, referindo-se à Prova Brasil aplicada no 5o ano.

    Com a ANA, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) passa a ser composto pela Avaliação Nacional de Rendimento Escolar (Anresc ou Prova Brasil), pela Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e pela ANA. A nova avaliação foi decretada em junho, em duas portarias (do Ministério da Educação e do Inep) publicadas no Diário Oficial da União. A avaliação vai testar conhecimentos em leitura, escrita e matemática e será aplicada de maneira censitária para as turmas regulares e de forma amostral para turmas multisseriadas. A matriz de referência da ANA, segundo o Inep, será disponibilizada em breve, mas o Instituto informou que não há data definida para isso.

    Para avaliar a alfabetização nos primeiros anos do ensino fundamental, o Saeb já contava com a Provinha Brasil, uma avaliação diagnóstica aplicada em duas etapas (no início e no fim do ano letivo) para os alunos do 2o ano. Segundo o Inep, a prova não sofrerá alterações. De acordo com o órgão, a ANA foi criada para "avaliar a qualidade, a equidade e a eficiência" do ciclo de alfabetização das redes públicas. Já a Provinha Brasil é um instrumento disponibilizado para o professor, com caráter diagnóstico de sua turma.

    Integrada ao Saeb e aplicada desde 2008 para os alunos do 2o ano, a Provinha Brasil parece dividir opiniões. Para o professor Luiz Carlos de Freitas, da Unicamp, a avaliação foi eficiente em evitar o ranqueamento e a pressão sobre o docente. "A prova vai direto ao pedagógico, ao diagnóstico, provendo o professor de informações sobre seus estudantes", diz. Já a pesquisadora da coordenação geral de estudos educacionais da Fundação Joaquim Nabuco, Patrícia Simões, acredita que, para o professor, a avaliação externa nem sempre é considerada melhor do que aquela desenvolvida no processo de ensino. "Os professores não utilizam os resultados das avaliações para repensar suas práticas pedagógicas. As provas são aplicadas como uma atividade obrigatória que deve ser cumprida por ser uma demanda do MEC, ou das secretarias estaduais ou municipais de educação", avalia Patrícia.

    O que avaliar 
    Um dos maiores desafios no caso da avaliação nessa etapa é como medir o processo de alfabetização. Como os alunos aprendem em ritmos diferentes corre-se o risco de fazer a medição na prova em um momento em que o processo do aprendizado não está concluído. "A avaliação já é feita com a Provinha Brasil em dois momentos do 2o ano e, agora, com a ANA no 3o ano de escolaridade. Com isso, que tipo de mensagem é passada para a escola? 'Professores, vocês têm de se preparar para o teste porque é ele que vai dizer se a criança está alfabetizada ou não'", diz João Luiz Horta Neto, do Inep.

    Outra questão a ser considerada é qual será o conceito norteador da avaliação das habilidades de leitura e escrita. "Diferentes definições levam a diferentes indicadores, diferentes matrizes e diferentes itens nos instrumentos de avaliação", diz Patrícia Simões. Alguns testes avaliam competências associadas a elementos importantes da alfabetização, como habilidades consideradas periféricas à leitura.

    A falta de informação sobre as matrizes de referência da ANA gera incertezas sobre qual conceito prevalecerá. Patrícia lembra que em documentos do MEC, como os Parâmetros Curriculares Nacionais e os cadernos de orientação dos avaliadores da Provinha Brasil, são utilizados os termos "alfabetização" e "letramento". "Mas, ao se analisar o instrumento da Provinha Brasil observa-se uma ênfase na avaliação de habilidades de domínio do código escrito", diz Patrícia. "Como consequência, a proposta de classificação dos níveis de desenvolvimento da linguagem escrita apresentada para a Provinha Brasil parece confusa. Priorizam a avaliação das habilidades de decodificação e identificação de letras, sílabas e palavras em detrimento do conhecimento de gêneros textuais e funções da linguagem escrita", completa.

    Como usar os resultados Para Gisele Carvalho, pedagoga e mestra em educação na área de Avaliação e Políticas Públicas pela Universidade Federal de São João del-Rei (MG), o potencial de informação que avaliações em larga escala produzem é muito importante para auxiliar governos, escolas e professores a planejarem suas ações. "Tais informações permitem identificar necessidades de aprendizagem e de investimentos diversos. Os efeitos desse tipo de avaliação são múltiplos, embora dependam não só dos usos pedagógicos, mas também dos usos políticos dos resultados e informações coletados", diz. "Cabe às escolas aplicá-la, corrigi-la e utilizar pedagogicamente os resultados - este último, julgo ainda, é um desafio", completa.

    Segundo Ana Paula Ribeiro, o modelo de avaliações em larga escala com aplicações censitárias leva os resultados a ser socializados mais rapidamente e de forma mais inteligível aos professores e gestores. "Assim, a comunicação é mais efetiva e o uso dos resultados é orientado para a dimensão pedagógica, o que é um importante diferencial em relação aos modelos amostrais", afirma.

    Os primeiros instrumentos de avaliação da alfabetização no Brasil são do final dos anos 1980, lembra João Luiz Horta Neto, pesquisador do Inep. As primeiras aplicações de pesquisas no âmbito nacional, desenvolvidas pela Fundação Carlos Chagas, foram em 1988. Segundo Horta, a preocupação naquela época era identificar se estava acontecendo algum problema na alfabetização e, caso estivesse ocorrendo, verificar como o sistema educacional poderia atuar junto à formação de professores - tanto na inicial quanto na continuada. "As avaliações não tinham por objetivo classificar escola ou premiar professor, e também não se comentava que havia uma idade certa para a criança estar alfabetizada. Hoje a ênfase é totalmente diferente", diz.

    Para Sandra Zákia Sousa, professora da Faculdade de Educação da USP, a iniciativa de criar a ANA faz parte da crença de que provas externas e em larga escala têm potencial de ser um meio indutor de qualidade do ensino e da aprendizagem. "Além de não ser possível fazer essa associação direta - haja vista os persistentes dados de fracasso escolar, apesar da instituição do Saeb há mais de duas décadas - vale comentar possíveis desserviços desta iniciativa nos anos iniciais da escolarização", afirma. Sandra tem divulgado em seus trabalhos que a concepção de avaliação cujo foco seja o desempenho em testes desloca a discussão, indesejadamente, da qualidade do ensino do âmbito político e público para o âmbito técnico e individual. "Isso tende a ativar mecanismos que estimulam a competição entre escolas e redes de ensino", aponta.

    Fonte: Revista Educação

    sexta-feira, 20 de setembro de 2013

    O QUE VOCÊ VAI SER QUANDO O SEU FILHO CRESCER?

    Não há como negar que a maternidade transforma uma mulher. O “eu” passa a ser “nós” para todo o sempre. Claro, há aquelas que conseguem fazer desta condição algo reversível. Mas, arrisco a dizer que a maioria não.

    Antes de a criança nascer, todas as atenções são voltadas para a mãe. Perguntas, palpites, mexem e beijam a barriga sem cerimônia. Mas, logo na maternidade há um rompimento brusco. As pessoas já entram no quarto querendo ver o bebê, segurá-lo, presenteá-lo. De protagonistas passam a... a... a... mãe daquela criança. Num segundo perdem a identidade, mas nem percebem ou ligam. Aquele pequeno ser é tão envolvente e dependente que a simbiose se instala. Mas logo eles crescem um pouco e a situação fica mais explícita. Seja no médico, na escola, na casa do amigo, no clube, onde quer que seja, o nome da mãe não é mais citado. Passam a ser a mãe de. Mas também pouco importa, afinal o filho é tudo. E logo crescem mais um pouco, um pouco mais e começam a voar. “E agora”, pergunta a mãe. “Ontem ele era carente de mim. Hoje sou carente dele. Sinto falta de quando eu era o seu mundo!”, mas o mundo é bem maior que a mãe.

    E então, muitas reclamam com os filhos ou dos filhos por terem aberto mão de suas vidas, de seu nome, adaptado a sua profissão. Muitas clamam por reconhecimento e amor. Mas parece ser em vão, pois não se reconhece ou se admira por decreto, por obrigação. E, pela própria carência, responsabiliza o filho por sua felicidade e valorização.

    Nesta fase, muitos casais se separam. Muitas mães adoecem. Os filhos não precisam mais delas. Outras tantas impedem-lhes o crescimento para tê-los embaixo das asas para todo o sempre. Mas uma hora há que se encarar a situação. O fato é que, consciente ou inconscientemente, tendemos a abrir mão de nossas vidas. E a doação pode ser tamanha que podemos nos surpreender ao descobrir que já não sabemos mais quem somos. Perdemos o chão, perdemos nós mesmas.

    Então, antes que o seu filho cresça atente-se:

    1 - Reconheça a situação e prepare-se psicologicamente. Quase todas as mães repetem sem parcimônia: “Educo meu filho para o mundo!”. Mas quando este mundo chega esta frase vira uma indigesta teoria.
    2 - Não deixe que sua vida gire em torno da criança. Você já existia antes dela. Saiba também priorizar-se sem medo e sem culpa. Ser mãe é um de nossos papéis e não o único.
    3 - Não abra mão do marido em prol da criança. Sem perceber, ela rouba espaço e tempo da família. Chama a atenção, não deixa os pais conversarem, rouba a cena, modifica a rotina. E em pouco tempo não se conhece mais com quem se dorme.
    4 - Valorize o seu crescimento e o do seu filho também. Prepare-o e se orgulhe dos seus ensaios de voos que vão cada dia mais longe do seu olhar. E, não pise em suas asas. É bom voar.
    5 - Busque diariamente o seu ser. Isso ajudará na formação da identidade do seu filho, além de favorecer que ele te valorize, ame e respeite. Não se abandone. Seu filho irá crescer.

    Fonte: http://bit.ly/18D7U8V

    quarta-feira, 18 de setembro de 2013

    INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM AUTISMO


    O Jornal da Educação produziu uma matéria que fala sobre a inclusão de crianças com autismo e um projeto de lei que propõe aulas de música, artes plasticas e artes cênicas no Ensino Fundamental. Vale a pena conferir.

    sexta-feira, 30 de agosto de 2013

    DIFERENÇAS : COMO LIDAR COM ELAS EM SALA DE AULA?

     Que as diferenças existem todos nós sabemos, assim como o fato de que elas ajudam a nos definir dentro de um grupo. Mas fazer da diferença motivo para discriminar (no pior sentido da palavra) ou fazer dela sinônimo de desigualdade, talvez seja um dos maiores erros da humanidade. E não adianta tentar justificar dizendo que até no dicionário as palavras diferente e desigual são sinônimas, porque a questão está no que o uso da palavra carrega: atitudes repletas de preconceito e exclusão são alguns dos exemplos.
    No fórum Discutindo perguntamos: “Quem tem interesse em transformar as pessoas de diferentes em desiguais? ” E, para refletir sobre como os professores lidam com as diferenças em sala de aula, consultamos algumas especialistas em educação inclusiva para falar a respeito.
    Se pensarmos que vivemos em um país que tem um dos maiores níveis de desigualdade social do mundo, “nos conscientizamos de que já evidenciamos uma realidade em que o diferente é enfaticamente considerado desigual. Portanto, é mais que necessário que repensemos nossas ações e até que ponto estamos valorizando os diferentes” é o que aconselha Sonia do Nascimento Santos.
    Diferentes todos nós somos (e viva a diversidade!); mesmo assim, não deixamos de julgar e ultrapassar a individualidade dos outros. É aí, então, que a diferença passa a ser considerada negativa. Mas, na opinião de muitos, diferenças e semelhanças podem ser trabalhadas desde cedo, seja em casa, seja na escola. “A minha luta é essa. Gostaria que todas as pessoas, independente da cor, raça, sexo, pudessem ser vistas como seres humanos. Acho que temos que trabalhar em sala de aula para que isso se torne realidade. Os profissionais da educação devem estar preparados para dar sua contribuição para o desenvolvimento da humanidade”, diz Dearlinda Mendes de Souza.
    E, apesar de as definições de diferente e desigual serem semelhantes no papel, é importante enfatizar as distinções entre elas – o que pouco se vê na prática. Oswaldo Oliveira destaca como boa parte da sociedade lida com diferenças e desigualdades: “ser diferente merece tratamento diferente; e pior, ser desigual significa ser inferior. Um homem é diferente de uma mulher, mas ele não é pior nem melhor – nem ela. Ser desigual significa que existe desnível entre os dois, o que não é verdade. Os alunos são diferentes, merecem atenção diferente, mas não são melhores ou piores uns que os outros”.
    Contudo, quem pensa no diferente de maneira preconceituosa? Ao analisar com mais rigor o perfil de nossa sociedade, poderíamos dizer que a maioria de nós pensa e age dessa forma, não apenas a classe dominante (como diria boa parte das pessoas). “Convém salientar que essa classe dominante está muito mais próxima de nós. Acatamos e difundimos uma cultura, um hábito de desvalorizar o que não está em nossos padrões. Nós tornamos desigual a diferença. Nós, enquanto sociedade, desvalorizamos os diferentes; estes, por sua vez, aceitam o papel que lhes é imposto. Não se muda a sociedade sem antes mudar seus indivíduos. Olhemos para trás: nossa herança histórica nos mostra muito do por que sermos tão desiguais”, lembra Evandro Francisco Marques Vargas.
    Voltando a falar do papel da escola e colocando-a como uma das maiores influências na construção do ser humano, destacamos o que disse Ivete Silva: “a questão não é transformar os diferentes em desiguais, e sim colocar profissionais preparados para trabalhar. O que nós vemos na escola são crianças que precisam de acompanhamento e não têm. Elas praticamente são deixadas de lado porque não conseguem acompanhar a turma, e esta precisa avançar”.

    Aprendendo com as diferenças

    Mas como é possível adaptar um ambiente de estudo ao aluno com necessidades especiais e ainda fazer disso um aprendizado para os outros? “Quando um aluno com deficiência convive com outros sem deficiência, os primeiros estimulam que os demais vivenciem novos valores humanos nas relações sociais. Quando uma turma tem alunos com altas habilidades, estes tendem a estimular a curiosidade dos demais. Para que isso ocorra, é preciso que toda a equipe pedagógica esteja atenta para valorizar cada uma das situações de aprendizagem. O que deve ser destacado é o que há de positivo em cada relação interpessoal. Dificuldades sempre existem quando não conhecemos, e educação é processo de construção de conhecimento”, afirma Cristina Delou, psicóloga, professora associada da Faculdade de Educação da UFF e responsável pela área de Educação Especial e Inclusiva da Fundação Cecierj.
    Dificuldades todos têm. “Mesmo a criança considerada normal tem dificuldades várias, que devem ser trabalhadas. Além disso, todos têm o que aprender e o que ensinar, e todos ganham com a convivência”, diz a professora e psicóloga Giuseppa Maria Luiza Scrza, diretora da Associação Iluminare, que apoia crianças e adolescentes com dificuldade de aprendizagem e oferece cursos para profissionais interessados em trabalhar com esse público. Assim, o aprender com as diferenças pode se estender para a vida fora da sala de aula. “A diversidade possibilita uma visão mais plural do mundo social. O trabalho deve estar na direção de um convívio saudável em qualquer grupo: o exercício da tolerância, da cooperação, do respeito mútuo e da busca de avanços na aprendizagem”, completa Cibele Fernandes, psicóloga escolar e neuropsicóloga.

    Eliminando a discriminação em sala de aula

    Nem sempre esse convívio é tão fácil e livre de pré-conceitos. É importante lembrar que “a discriminação dentro da escola existe não só em relação ao estudante com necessidades especiais, mas também em relação a negros, pessoas fora da faixa etária para a série cursada, alunos com dificuldade de aprendizagem e homossexuais, entre outros; todos que não são maioria sofrem discriminação, que, em algumas vezes, é clara e, em outras, disfarçada. Na maioria das vezes, o que conta é simplesmente o fato de serem diferentes da maioria”, diz Adriana Oliveira Bernardes, professora da rede estadual, mestre e doutoranda em Ciências Naturais pela UENF e colaboradora da revista Educação Pública.
    E como o educador deve agir em sala de aula? “Ele deve trabalhar a discriminação de maneira geral; como esta discriminação é originada nas diferenças, é necessário mostrar que diferenças são normais nos indivíduos da nossa sociedade”, complementa Adriana
    Na opinião de Cristina Delou, “o educador deve dialogar com toda a turma sobre a diversidade humana, a importância de cada pessoa em nossas vidas, o que elas nos ensinam e o que nós podemos ensinar a elas”. Para Cibele, “é preciso partir de si mesmo. Perceber seus preconceitos e dificuldades com o diferente. Pensar, estudar e refletir. Só depois se pode, com a comunidade envolvida no processo educacional daquele grupo, traçar estratégias para a convivência social participativa, responsável e cooperativa”.
    Há educadores que defendem a ideia de que o estudante diferente deve ser tratado como igual, “até porque a deficiência traz algumas limitações, mas não impede o indivíduo de viver como qualquer outro. Do ponto de vista de recursos a serem utilizados em sala de aula (como material inclusivo), os professores devem adequá-los para que tanto o aluno que chamamos normal quanto aquele que possui deficiência possa utilizá-lo”. É o que avalia Adriana.
    Além disso, vale destacar a singularidade e as necessidades educacionais de cada indivíduo. Por exemplo: “o aluno cego tem especificidades que o aluno vidente não tem. Se a bola da aula de Educação Física não tiver guizo dentro, os alunos cegos não poderão jogar futebol; se a bola for apropriada, todos poderão participar do time”, conta Cristina. Então, “não se trata de igualdade, mas de equidade. Cada um deve ser atendido nas suas necessidades específicas e ser membro de um grupo que tem suas regras de convívio e de trabalho”, conclui Cibele.

    O que seria uma escola inclusiva ideal?

    Educação ideal é aquela que atende a todos e, numa época em que muito se fala em inclusão, vai se concretizando a educação inclusiva, que entende e trabalha a diversidade dos alunos. É importante falar que “uma escola inclusiva não é aquela que apenas aceita toda diversidade de alunos, mas sim aquela que, recebendo esses alunos, encontra soluções para que eles participem do processo educativo de forma plena, desenvolvendo todo o seu potencial”, explica Adriana.
    E o que seria uma escola inclusiva ideal? Para Cibele, “é a que trabalha com a diversidade, tendo clareza de suas limitações e possibilidades reais de trabalho com as diferentes dificuldades na aprendizagem, tanto no que diz respeito à competência profissional como quanto à infraestrutura. Seria fundamental também estudo (grupo de estudos e discussão de casos) e atualização permanente do grupo de profissionais. Há muitos avanços em relação aos conhecimentos sobre os diferentes transtornos que podem prejudicar o processo de aprendizagem e a escolaridade. Os educadores precisam se apropriar desses conhecimentos que outras áreas trazem para a Pedagogia, a fim de não ficar no achismo”.
    Pensando na nossa realidade, o que podemos ter como mais próximo do ideal de escola inclusiva? O que temos de fato? Cibele complementa: “ainda estamos no começo de um processo de conhecimento do que é de fato o trabalho pedagógico com as diferenças. Acredito que haja experiências isoladas mais organizadas nesse sentido, porém ainda há pouca troca. Em maio deste ano, o Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro realizou um seminário sobre dificuldades na aprendizagem e no comportamento, com várias palestras e uma publicação. Creio que iniciativas como essa são importantíssimas e  deveriam ser mais frequentes”. 

    O que é preciso para ser um profissional da educação inclusiva

    Relembrando a importância de um profissional bem preparado, Cristina Delou orienta: “o educador deve ser uma pessoa que busca na formação continuada seu crescimento profissional. A partir da autocrítica em relação ao que lhe falta para garantir que todos os alunos tenham acesso aos saberes escolares, o educador precisa buscar, em cursos de capacitação e pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado), a formação necessária para o exercício profissional com alunos especiais. Contudo, os saberes escolares ainda não foram instituídos, porque a sociedade brasileira não é inclusiva como um todo; logo, não possui história e nem cultura de formação de professores voltada para a educação inclusiva. Sozinho, mesmo o educador bem intencionado pode muito pouco. Ele precisa de universidades que pesquisem novas tecnologias e metodologias de ensino e que ofereçam cursos de Libras (para alunos surdos), Braile, sorobã, orientação e mobilidade (para os cegos), Libras tátil e tadoma (para os surdo-cegos), comunicação ampliada e alternativa (para aqueles com deficiência física), programa de enriquecimento escolar e  aceleração de estudos (para os que têm altas habilidades/superdotação), tecnologias da informação e da comunicação, adaptações curriculares, plano individual de ensino, atendimento educacional especializado (para todos) e terminalidade específica (para alunos com deficiências graves e múltiplas), entre outros. Os educadores precisam de gestores educacionais preocupados com essa formação e que apontem as demandas de seus alunos”.

    E o que dizer a quem exclui a inclusão? 

    Ainda encontramos muitos profissionais que não entendem a inclusão como uma necessidade e “ordem natural” da educação. Que conselhos dar a um profissional que ainda exclui a inclusão da sua metodologia de ensino? “Vivemos hoje em um novo paradigma e temos que nos adequar a esses novos ares. O salário não nos permite reciclar, nem mesmo existem ações governamentais que nos incentivem a participar de programas de capacitação. Entretanto, o papel do professor no processo inclusivo é fundamental, e, apesar de não depender apenas dele para que as escolas se tornem inclusivas, o papel que ele exerce é muito importante, principalmente se puder entender a importância de um professor pesquisador dentro da escola e se tornar este profissional, exercendo sua prática a partir da reflexão e de acordo com a realidade da escola”, diz Adriana. Além disso, na opinião de Cristina, é preciso ter “consciência de que a negação de tudo que os alunos especiais precisam expressa a negligência com que eles vêm sendo tratados na escola, contribuindo para o aumento da violência social. Não se faz educação inclusiva sem formação continuada”.

    Políticas de inclusão hoje e amanhã

    Segundo Cristina, “hoje, as  políticas de inclusão ratificam que a educação é direito humano e que todos devem ter acesso aos níveis mais elevados de ensino, de acordo com as capacidades de cada um. Segundo a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, os alunos sujeitos à inclusão são os alunos com deficiências (intelectual, visual, auditiva, surdo-cegueira, física e múltiplas), transtornos globais do desenvolvimento (casos do espectro do autismo e transtornos psicóticos, entre outros) e altas habilidades/superdotação”.
    Para Adriana, “nós não temos escolas realmente inclusivas; as escolas que temos não lidam bem sequer com a dificuldade de aprendizagem de alunos considerados normais, não existe um plano de ação para ele, ele não é uma preocupação para a escola no que concerne a seu aprendizado. O que a escola faz é colocar nele próprio toda a culpa de seu fracasso. Logo, esse aluno também é excluído. A escola inclusiva deve oferecer oportunidades para esse tipo de aluno”. Ela ressalta que a inclusão depende do esforço coletivo de escola, professores, funcionários, alunos e pais de alunos.
    Quais são as perspectivas para o futuro próximo da educação inclusiva? “As políticas de inclusão
    no Brasil são datadas e têm como base a legislação. Elas tiveram início com a Constituição de 1988, que no seu artigo 208 garantiu o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Depois, vieram a Declaração de Jomtien (1990), a de Salamanca (1994) e a LDB (1996). Desde então, os documentos vêm regulamentando e normatizando as práticas a serem implantadas pelos sistemas de ensino, escolas e formação de professores. Logo, concluo que é um processo de construção de uma nova sociedade. É a possibilidade de, no futuro, o Brasil contar com uma sociedade mais tolerante em relação às diferenças. É a certeza de que as pessoas historicamente excluídas poderão contar com a escola para a construção de sua cidadania”, conclui Cristina.